sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Mãe Preta, a realidade que se transformou em lenda


No dia 28 de Setembro de 1871, a princesa imperial regente, em nome de Sua Majestade, o imperador D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a Lei do Ventre Livre: "declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento daqueles filhos menores e sobre a libertação anual de escravos".
Embora tenha sido objeto de grandes controvérsias, a lei representou, na teoria, um passo tímido na direção do fim da escravatura. Assim, juntamente com o fim do tráfico de escravos, secavam-se as fontes, ou melhor os ventres das escravas, que forneciam as novas fornadas de escravos.
Vale lembrar que apenas os escravos que nasceram desta data em diante eram livres. Suas mães continuaram escravas. Diante desta afirmação me vemos seguintes questionamentos: para aonde essas crianças iriam sem suas mães? Quem iria criá-los? Será que estavam livres mesmo? Estavam. Estavam livres de ser vendidos, comercializados como coisas. Livre somente disso.

Nesse dia, homenageamos aquela que além de gerar seus filhos, com incontáveis sacrifícios, ainda sofria tendo de entregá-los ao seu senhor, para serem escravizados e que, além disso, tinha a obrigação de cuidar e amamentar, com carinho e respeito, os filhos do seu amo.

A lenda da Mãe Preta surgiu no Rio Grande do Sul, juntamente com a cidade de Passo Fundo. Conta a lenda que a Mãe Preta era uma escrava do Cabo Neves, senhor das glebas de Passo Fundo. Era conhecida por Mariana e tinha um filho que era a sua alegria. Certa vez, o jovem fugiu de casa, não mais retornando, deixando sua mãe inconsolável a ponto de definhar. Dessas lágrimas que Mãe Preta derramou teria brotado uma fonte, que se tornou famosa entre a comunidade e os viajantes. Ainda segundo essa lenda, dizem que antes de morrer, Mãe Preta foi visitada por Jesus Menino, que lhe pediu que não chorasse, porque seu filho se encontrava na mansão celeste. Jesus ter-lhe-ia falado ainda: "Em recompensa de tua dor, pede o que quiseres que te darei"

Mãe Preta então pediu: "Dá-me a felicidade de ir para junto de meu filho, mas, como lembrança, quero deixar esta fonte, para quando aquele que dela beber, retorne sempre a esse lugar". Um chafariz foi construído sobre a fonte, cuja terra, Cabo Neves havia doado. Esse chafariz serviu, inicialmente, para fornecer o abastecimento à vila de Passo Fundo, cujo transporte era feito pelos escravos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Os meninos que fizeram a morte dançar

Hoje, é dia de Cosme e Damião, os dois irmãos bons e caridosos que realizavam milagres e por isso foram mortos sob a acusação de feitiçaria. Na cultura africana, o culto aos irmãos está associado aos "ibejis".

Diz a lenda que os Ibejis, orixás gêmeos, viviam para se divertir, eram filhos de Oxum e Xangô.

Viviam tocando uns pequenos tambores mágicos que ganharam de sua mãe adotiva, Yemanjá. Nesta época Iku, a morte, colocou armadilhas em todos os caminhos e começou a comer todos os humanos que caiam em suas arapucas.

Homens, mulheres, crianças ou velhos, Iku devorava todos. Iku pegava os seres humanos entes do seu tempo aqui no Aye. O terror se alastrou pelo mundo.

Sacerdotes, bruxos, adivinhos, curandeiros se reuniram, mas foram vencidos também por Iku, e os humanos continuavam a morrer antes do tempo.

Os Ibejis, então, aramaram um plano para deter Iku. Pegaram uma trilha mortal onde Iku preparara uma armadilha, um ia na frente e o outro seguia atrás escondido pelo mato a pouca distancia. O que seguia pela trilha ia tocando seu pequeno tambor e tocava com tal gosto e maestria que a morte ficou maravilhada, e não quis que ele morresse e o avisou da armadilha. Iku se pôs a danças inebriadamente, enfeitiçada pelo som mágico do tambor. Quando um irmão cansou de tocar, sem que a morte percebesse o outro veio tocar em seu lugar. E assim foram se revezando, sem Iku perceber e ela não parava de dançar e a musica jamais cessava.

Iku já estava esgotada e pediu para parar, e eles continuavam tocando para a dança tétrica.

Iku implorava uma pausa para descanso.

Então os Ibejis propuseram um pacto. A musica cessaria mas Iku teria que jurar que tiraria todas as armadilhas.

Iku não tinha escolha, rendeu-se; os gêmeos venceram. Foi assim que ibejis salvaram os homens e ganharam fama de muito poderosos, por que nenhum outro orixá conseguiu ganhar akela peleja contra a morte. Os Ibejis são poderosos, mas os que eles gostam mesmo é de brincar.

Baseado no texto de Reginaldo Prandi, Ifá, o Adivinho. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2002.

O segredo das folhas de Ossain

Conta a historia que Ossain era o único orixá que tinha o conhecimento do uso das folhas. Por isso, era conhecido como o dono das folhas, ervas e plantas sagradas, possuidoras de axé.

Todos os orixás recorriam a Ossain para curar qualquer doença, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossain pra curar suas doenças. Todos iam à casa de Ossain buscar seus preparados mágicos: banhos, chás, pomadas. E de lá saiam curados.

Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de Ossain, conhecendo o segredo das ervas. Xangô ordenou que Ossain dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas Ossain negou-se a dividir suas folhas com os outros Orixás. Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossain para que fossem distribuídas aos Orixás. Iansã fez o que Xangô mandou. Fez um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô. Ossain percebeu o que estava acontecendo e gritou:

-As folhas funcionam!

Na mesma hora , Ossain ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossain. Quase todas as folhas retornaram para Ossain. As que já estavam em poder de Xangô perderam o Axé, perderam o poder da cura.

Xangô, que era um orixá justo, admitiu a vitória de Ossain. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossain e que assim devia permanecer através por toda vida.

Ossain, contudo, deu uma folha para cada Orixá, deu uma folha mágica para cada um deles. Cada folha com seus axés e seus efós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossain distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Agora eles também podiam realizar façanha com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossain não conta seus segredos para ninguém.

Os Orixás ficaram gratos a Ossain e sempre o agradece quando usam as folhas.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Casa, filhos, promessa

Viúva aos 40 anos, Maria Raimunda dos Santos, se viu sozinha tendo que criar quatro filhos entre 25 e 19 anos de idade e terminar a construção da casa que começou juntamente com seu esposo. Diante de tanto desespero resolveu fazer uma promessa para São Cosme e São Damião que se ele a ajudasse a criar seus filhos e terminar a construção da casa e em troca lhe daria o caruru de São Cosme enquanto vida tivesse. Promessa feita, casa construída, filhos criados. Nada resta a Dona Mundinha, como é conhecida, alem de curtir.

E foi isso que fez durante toda sua maturidade, festa de Santa Bárbara, Yemanjá, lavagem do Bonfim, samba-de-roda, seresta, aniversários, casamentos... era a verdadeira arroz doce das festa se tinha um batuque lá estava ela, podia ser a festa que fosse bastava convidar que ela ia.

Entre uma festa e outra arrumou um paquera, o qual tornou-se por um bom tempo seu companheiro de festa. Relacionamento terminado por motivo de ciúmes, e queixas por sair demais, resolveu curtir a vida sozinha jurou nunca mais se prender a ninguém não queria mais ninguém limitando seus passos. “Se maluco chamar não vá. Se não era capaz de me acompanhar que ficasse em casa”, reposta dado por Dona Mundinha sempre que questionada sobre o termino do seu relacionamento.

Neste mesmo ano Dona Mundinha resolveu não mais dar o caruru de São Cosme, achou que já havia alimentado São Cosme demais seria aquele o ultimo ano de sua promessa e sem saber seria também o ultimo ano que poderia curtir a vida da maneira que ela mais gostava. Um dia antes do tão esperado caruru, o enevitado aconteceu teve um derrame que paralisou todo lado esquerdo do seu corpo. Hoje a quatro anos em casa só saindo pra ir ao médico continua dando o caruru de São Cosme e pedindo que o mesmo lhe retorne o prazer de viver, possibilitando sua saida para as festas.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O dia em que o céu se separou da terra


A milhares de ano atrás não havia separação entre o Orum (o céu dos orixás) e o Aiê (a terra dos humanos). Homens e os orixás viviam juntos e felizes dividindo alegrias e aventuras. Até que um dia um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O céu que era branco ficou todo sujo. Vendo toda aquela sujeira Oxalá, que gostava de tudo branquinho bem limpinho, foi reclamar com Olorum, o dono do céu. Olorum irritado com a sujeira que os seres humanos estavam fazendo decidiu separar o céu da terra, a partir daquele momento nenhum ser humano poderia ir para o céu dos orixás e nenhum orixá poderia descer para terra dos seres humanos.

Agora eles viviam cada um no seu mundo. Todos estavam muito tristes, pois não tinha mais com quem brincar. Então os orixás resolveram se reunir e ir falar com Olorum, que acabou permitindo que em vez em quando os orixás retorna-se à terra. Os orixás ficaram muitos felizes porque podiam voltar a terra e os homens mais ainda porque poderiam novamente brincar com os orixás.

Os homens felizes com a notícia resolveram fazer uma festa para receber os orixás. Enquanto os homens tocavam seus tambores, cantavam, davam vivas e aplaudiam convidando todos os seres humanos para a festa, os orixás dançavam e dançavam e dançavam. Os orixás podiam de novo conviver com os seres humanos. Todos estavam muitos felizes. Na festa orixás e os seres humanos dançavam e cantavam.

A origem do homem na versão Africana


-Vovó de onde mesmo que veio o homem?

- Senta aqui que vou de contar: Quando era bem pequenininha assim mais ou menos da sua idade minha avó que era descendente da África, uma região chamada Daomé, me contou uma história.
Não sei se ainda lembro direito mais vou te contar o que lembro.

-Vovó antes da senhora me conta a história, me diz o que é descendente?

- Descendente é aquele que vem de algum lugar.

- Já sei vovó. Agora a senhora pode continuar a história.

-Há muito tempo atrás os orixás viviam aqui na terra. A terra era habitada pelos orixás. Não existia o homem. Até que um dia Olorum , o dono do céu, resolveu que iria criar o homem para fazer companhia aos orixás. Olorum tentou criar o homem de ar, de fogo, de água, pedra e madeira, mas em nenhum caso deu certo.

- Porque não deu certo vovó?

- Não deu certo porque o homem de ar e de água desaparecia,não tinha forma , o de fogo consumia-se , o de pedra era duro não se mexia o de madeira também.

-E agora vovó o que Olorum fez?

- Na verdade ele não fez nada. Nanã foi quem fez. Ela vendo que todas as alternativas tinham dado errado, se ofereceu para criar o homem. Olorum permitiu. E Nanã poste a fazer o homem. Pegou um punhado de barro foi modelando o corpo as pernas, os braços a cabeça, e tudo que temos hoje. Ela não esqueceu de nada , fez tudo direitinho. Nos deu tudo que precisamos, pernas para andar, mãos para pegar as coisas, olhos para ver... não esqueceu de nada.

- E depois que homem foi feito, o que aconteceu?

- Os homens e os orixás viveram juntos e feliz dividindo alegrias e aventuras na terra.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Candomblé luta pelo reconhecimento como religião

Trajes baianos e culinária de dar água na boca são alguns dos atrativos que atraem os turistas quando se fala em Bahia. Entretanto, por também estar associado à cultura local, o candomblé acaba , sendo confundido com manifestação folclórica ou forma de arrecadar dinheiro por quem anda faturando com visitas a terreiros.

Comida típica em fartura, apresentações artísticas, acento reservado, ao som dos atabaques e se a visita for durante o dia terá direito a entrar nos quartos dos orixás em qualquer terreiro, tudo isso no valor entre R$ 50 a R$ 95, por pessoa. Este é o montante que muitos guias avulsos e agencias de viagem estão cobrando para levar os turistas brasileiros e estrangeiros aos terreiros de candomblé. Este fato tem preocupado sacerdote e sacerdotisa que vêem este ato como desrespeito a religião. Em entrevista ao Jornal a Tarde a mãe Stella de Oxossi , do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, afirma que os visitantes devem levar a impressão correta, encarando o candomblé como religião. “O candomblé não é um produto turismo étnico.”

Visando estes e outros problemas que os terreiros de candomblé de Salvador vem enfrentando mãe Stella de Oxossi realizou uma discussão sobre o tema. No ultimo sábado, dia 15 de setembro, guias turístico, agências de viagens, estudantes de turismo e órgãos governamentais foram convidados a participar do Seminário Turismo e Candomblé. O seminário ocorre com a proposta de desfazer uma serie de mal-estendido e distorções sobre a religião.

Dentro da mesma linha, o projeto de Turismo étnico da Secretaria de Turismo (Setur) pretende apoiar ações que visem à mudança de postura com relação ao candomblé. Uma das ações será o apoio a eventos que visem à conscientização de visitantes e profissionais da área. Dentre outros projetos serão apoiados pela secretaria esta a construção de pousadas em alguns templos, para acolher visitantes,em projeto previsto para o ano que vem. A Setur pretende realizar um fórum para apresentar toda a estrutura étnico em evento realizado para profissionais da área e representantes de terreiros.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O vazio das revistas


Uma coisa me deixa extremamente curiosa. Por que diabos o público feminino compra estas revistas que tratam as mulheres como manequim? Acabou de chegar aqui em casa mais uma das revistas que minha mãe faz questão de ler. Na capa Grazi agora “em versão boa forma” no corpo da matéria tem: Com um corpo escultural, cabelo absolutamente maravilhoso e sorriso fácil, Grazi seduz rápida e violentamente qualquer um que se atreva olhar para ela por mais de dez segundos. Nesta nova fase, aderiu a um personal trainer, melhorou sua alimentação e descobriu o prazer de consumir. Confira!

Voltada para o bem estar feminino, a revista Boa Forma traz mensalmente mulher rotuladas como “perfeita” para dar dicas de como viver bem, de como ser bonita... Sinceramente, tudo se tornaria bem mais simples, se além de despertar o interesse do mercado pela moda, beleza e cosmético ela também discutisse temas fundamentais como uma boa alimentação sem se preocupar em parecer com fulaninha da tv ou com cicraninha que é mó gostosa . Afinal para que tiveram o trabalho de criar uma revista dirigida para o público feminino onde o tema é o bem estar, se o único objetivo sincero da matéria é reproduzir na mulher do dia a dia, manequins produzidos pela mídia?

Realmente tudo seria mais simples se nós, mulheres modernas, em vez de perder tempo lendo estas revistas recheadas de besterol, optássemos por fazer coisas geniais, como manter o auto-controle no supermercado, embora não acredite que precisa. Acredito mesmo que devemos comer tudo que temos vontade sem se preocupar com estética, a única preocupação que devemos ter é realmente com a saúde.

Pois bem, caso não consiga manter-se em forma pode a moça - baleia assumir-se gorda e manter outro conselho fabuloso em revistas similares: curso de strip para mulheres obesas, afim de alcançar uma rápida melhora auto estima ou então dicas seguir maravilhosas de roupas que disfarçam aquelas gorduras laterais que estão sobrando. Enfim se acha que é gorda se assuma, ou então corra para bancas e consuma rapidamente tudo que diz respeito as mulheres modernas.