quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Ai, meu São Benedito!

Recebi essa nota pública de um amigo e fiquei indignada com a declaração do agressor: “Quando olhei para o lado, vi uma imagem de cor negra segurando Jesus. Achei que era o demônio, sorrindo para mim".
Prefiro não expressar minha opinião sobre essa sandice que esse desnorteado declarou. Deixo apenas que vocês leiam e comentem...


Nota pública:

A Secretaria de Cultura da Bahia repudia a destruição da imagem sacra de São Benedito da Igreja de Nossa Senhora de Santana, praticada num ato de fanatismo religioso e noticiada nesta terça feira, 4 de dezembro. Além da depredação de uma obra artística de valor histórico incalculável, a justificativa do agressor: "Quando olhei para o lado, vi uma imagem de cor negra segurando Jesus. Achei que era o demônio, sorrindo para mim" demonstra claramente motivações racistas e de intolerância religiosa.


É inadmissível que alguns cidadãos ainda levantem barreiras de convivência e incitem a violência contra a diversidade religiosa e étnica que constituem a sociedade brasileira. Infelizmente, o ocorrido revela um extrato da intolerância e do preconceito racial do cotidiano, mesmo em uma cidade como Salvador, que dá exemplo de convivência religiosa harmoniosa como demonstrada hoje nas ruas do Centro Histórico, quando católicos e adeptos do Candomblé uniram-se na devoção à Santa Bárbara e à Orixá Yansã.

A Secretaria de Cultura da Bahia, através do IPAC, e o IPHAN/ MinC garantirão a restauração da obra danificada, restabelecendo-a ao rico acervo barroco da Igreja e preservando a produção do artista baiano Francisco Manoel das Chagas, o Cabra, um dos mais importantes escultores brasileiros.
*Marcio Meirelles, secretário de Cultura da Bahia

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O povo de santo caminha rumo à liberdade religiosa

Quando comecei a escrever sobre a III Caminhada do Povo de Santo pela Vida e Liberdade Religiosa não me dei conta da dimensão do universo com que eu estava me envolvendo. Só pude perceber a complexidade do fato quando sentei em frente ao computador para escrever o tal texto. Pensava, pensava, pensava e nada. Foi tanta coisa que vi e ouvi que não sabia nem por onde começar.

Pois bem. Como boa filha de Oxum, que prefere contornar habilmente um obstáculo a enfrentá-lo diretamente, fui dormir. Na tarde do outro dia, com a cabeça mais arejada, resolvi escrever.

Na cidade com 371 igrejas e mais de 1,2 mil terreiros, a fé se mistura. Na cidade mais negra fora da África os seguidores da religião de origem africana ainda se sentem descriminados.

A III Caminhada do Povo de Santo pela Vida e Liberdade Religiosa reuniu pessoas de todo o País que lutam pela liberdade e respeito pelas práticas religiosas de matrizes africanas, no Mês de celebração da Consciência Negra, marcado pelo 20 de novembro.
No bairro do Engenho Velho da Federação, o povo de santo saúda os orixás e pedem aos seus antepassados que os abençoe, todos vestidos de brancos. Baianas, Ialorixás, Babalorixás e filhos de santos ganham as ruas do bairro e defendem também o Estatuto Estadual da Promoção da Igualdade Racial. Marcos Rezende, organizador do evento, afirma que não é só uma caminhada de um determinado grupo, mas é também uma caminhada do povo de santo brasileiro que, além de fazer um ato religioso, percebe que precisa de uma ação política efetiva para garantir os direitos institucionais.

O momento histórico da caminhada foi em frente ao terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká conhecido como Casa Branca, onde mães, pais e filhos de santos de diversos estados brasileiros se reuniram em um ato pela paz, com soltura de pombas brancas.

Durante a caminhada, líderes religiosos de distintos estados do Brasil, a exemplo de mãe Beata de Yemanjá, Ialorixá de um terreiro do Rio de Janeiro que, em entrevista para a TV Educativa (TVE), protestou contra a intolerância religiosa afirmando que “nós, afros-descendentes, nosso povo que pra aqui chegou no fundo de tumbeiros fedidos, fomos nós que construímos essa nação a qual eles agora dizem que é laico. Laico porque?! É laico para o bolsos deles, mas para nós não é laico, por que a todo momento nós somos agredidos ” (sic).

Com cânticos e danças que lembram os costumes dos nossos antepassados africanos, o povo de santo caminhou em direção ao Dique do Tororó, considerado local sagrado para os adeptos do candomblé, onde aconteceu um abraço simbólico. Pai Agenor de Santana, babalorixá, explica o motivo da escolha do Dique do Tororó, “Abraçar o Dique é receber a força das águas, a força dos orixás. Isso é a prova de que as energias que nos une é muito mais forte da que nos tenta separar. Costuma-se falar que o povo de santo, o povo de axé, não é um povo unido, mas essa é uma mostra que nós trazemos às ruas e avenidas de Salvador. O candomblé não cabe mais dentro dos portões dos terreiros”.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

As folhas, os orixás e seus significados

Por: Iele Portugal e Taisa Santos

Trabalhar no sentido da preservação do meio ambiente é dever de todos, pois osseres viventes precisam de água, ar e ervas para a manutenção da vida. Todos os seres racionais e irracionais são apegados a ela, todos têm o dever e o direito de preservar a vida, por isso devemos cuidar da natureza e tudo que a ela pertence.

Os orixás são representados pelas forças da natureza: água, terra, fogo e ar. Sem esses elementos e sem as folhas, não tem orixá; em conseqüência, os que cultuam essas forças, têm o dever de preservar a natureza acima de tudo. As folhas e as águas doces e salgadas representam a natureza; não só para adeptos do candomblé, mas para todos os seres viventes do reino animal e vegetal.

Os cultuadores dos orixás trabalham, celebram, vivem e morrem manuseando folhas e águas. Por este motivo, a natureza é de essencial importância para o funcionamento da religião. Segundo Nanã, Ebami,(pessoa com mais de sete anos no culto), do terreiro Opô Afonjá, localizado no São Gonçalo do Retiro; “No culto aos orixás, a natureza é força maior, e sua preservação se fez absolutamente necessária. Todos os seres do mundo homem, animal ou vegetal, precisam de água para todos os fins; com água e folhas fazem-se remédios, mesmo nos produtos químicos, alguma porcentagem mesmo que mínima de erva faz parte, o que nos torna defensores da natureza”.

No terreiro visitado, Opô Afonjá, há como em todo terreiro uma grande área de vegetação, composta de árvores e plantas de várias espécies, destas são retiradas às ervas para os cultos, remédios e trabalhos espirituais.

Não tem como falar de vegetação sem falar do orixá responsável pelas matas e florestas, o detentor do poder de cura através das ervas, Ossain, o chamado de o rei das folhas. Este orixá é conhecido como o protetor dos médicos, farmacêuticos e de todos que fazem remédios que tratam da saúde.

O autor Reginaldo Prandi, em seu livro Mitologia dos orixás nos conta uma pequena história sobre este Orixá:
Ossain dá uma folha para orixá - Um dia Xangô que era deus da justiça, julgou que todos os orixás deveriam compartilhar o poder de Ossain, conhecendo o segredo das ervas e dom da cura. Xangô sentenciou que Ossain dividisse suas folhas com os outros orixás, mas Ossain se negou a dividir suas folhas. Logo Xangô ordenou que Iansã, deusa da tempestade soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossain para que fossem distribuídas aos orixás. Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou para o palácio de Xangô. Ossain percebeu o que estava acontecendo e gritou: “Euê uassá! – As folhas funcionam!”. Ossain ordenou as folhas que voltassem as suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossain. Quase todas as folhas retornaram para Ossain. As que estavam em poder de Xangô perderam o axé, perderam o poder de cura.

O orixá rei, que era justo, admitiu a vitória de Ossain. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossain e que assim devia permanecer através dos séculos. Ossain, contudo, deu uma folha para cada orixá, deu uma a euê para cada um deles. Cada folha com seus axés e seus ofós, que são cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. 0ssain distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossain não conta seus segredos para ninguém, Ossain nem mesmo fala. Os orixás ficaram gratos a Ossain e sempre o reverenciam quando usam as folhas.

Apesar de Ossain ter uma grande importância no candomblé o IroKo (orixá representado por uma árvore, gameleira branca) também é muito importante. Pois no seu pé é assentado após o termino das obrigações, todas as oferendas de outros orixás, e o tronco é enfeitado com um ÒJÁ FUNFUN - pano branco.

Edson Eder, ogãn da Casa Branca, conta a importância e a história deste orixá. “Iroko representa o tempo. Foi a primeira árvore da terra. Existe desde o princípio dos tempos a tudo resistiu e a tudo resistirá... Este orixá traz fertilidade para as mulheres. Tem uma lenda mesmo que diz que uma mulher pediu um filho a Iroko e que ela daria a criança como oferenda. Iroko lhe deu o filho que tanto queria, mas a mulher por amor ao seu filho não cumpriu com a promessa. Um dia quando a criança brincava a mãe foi buscá-la e Iroko a lembrou de sua promessa, Iroko pegou a criança para si. A mãe desesperada consultou um adivinho, que mandou ela fazer um boneco de madeira e colocar nos pés de Iroko, quando ele estivesse dormindo. Feito isso, a mãe recuperou seu filho e Iroko até hoje tem a seus pés o boneco de madeira como se fosse sua criança”.

Uso das folhas - Pierre Verger, em seu livro Ewé, coloca que se para a medicina ocidental o conhecimento do nome científico das plantas usadas e suas características farmacológicas é o principal, em uma sociedade tradicional o conhecimento dos ofós, encantações transmitidas oralmente é essencial. Neles encontramos a definição da ação esperada de cada uma das folhas que entram na receita.Conseqüentemente, entre os iorubás, a preparação dos remédios e trabalhos mágicos, devem ser acompanhados por encantações, (ofós), com o nome da planta, sem as quais esses remédios e trabalhos não agiram. Conforme já foi dito.

Entre os iorubás os ofós são frases curtas nos quais muito freqüentemente o verbo que define a ação, o verbo atuante, é uma das sílabas do nome da planta ou do ingrediente empregado. Tal é o caso de uma receita para chamar boa sorte (àwúre oríre): deve-se usar ajifá bi àlá (IPOMOEA CAIRICA), às quais se adicionam afárá oyim (favo de mel), queima-se tudo até obter um pó preto, que é misturado com azeite de dendê e lambido por aquele que deseja obter boa sorte. O verbo atuante é fó (rere) -para trazer boa sorte, uma sílaba incluída em todos os nomes dados.

Existem várias plantas cuja presença, a primeira vista, parece ter somente um caráter simbólico mais que, na realidade, tem valor terapêutico. A exemplo de duas plantas aquáticas, ojú oro (PISTIA STRATIOTES, Araceae, a alface d’ água) e òsíbàtà (NYMPHEA LOTUS, Nymphaceae, o lótus), que em seus ofós evocam a idéia de superioridade e dominação as frases que seguem:

Ojú oró ni í lékè omi – Ojú oró está sobre a água.

Òsíbàtà ni í lékê odò – òsíbàtà está sobre o rio.

Nessas encantações, os nomes de folhas são acompanhados de duas a três linhas descrevendo suas qualidades naquele caso em particular. A uma certa folha podem ser atribuídas virtudes diferentes segundo sua associação com um ou outro conjunto de folhas, pois elas entram na composição de diferentes preparações medicinais.
Na terra em iorubá, a nomeação das plantas leva em conta suas características: cheiro, cor, textura das folhas, reação ao toque provocada pelo seu contato, entre outro. Como cada orixá tem sua folha, ela tem uma característica pessoal. Uma planta de Oxum será classificada como doce independente do gosto; uma planta de Yemanjá será salgada. Esses e outros fatores levam a atribuir uma planta a Oxum ou Yemanjá.

Pode-se assim concluir que para o candomblé, é de grande importância o entendimento e o conhecimento das folhas e seus respectivos patronos, pois estes indicarão qual será a sua finalidade. Para você leitor pode ser complicado ouvir e falar sobre as plantas, porque é muito complexo, vai alem da simples colheita. Envolve ritos que vão desde a consulta e até a indicação, coleta, manipulação e a administração do preparo.

O papel sagrado e terapêutico, aparentemente diferente, dificilmente poderá ser dissociado um do outro como afirma vários estudiosos sobre o assunto, a exemplo de Ordep Serra, Pierre Verger e José Flávio Pessoa de Barros. A sacralização das plantas usadas como remédio, acontece quando estas passam a fazer parte dos rituais de cura, guiadas por divindades ou entidades que administram esses objetos sagradas que são as plantas.

O povo de santo caminha contra a violência e intolerância religiosa

Desde o ano de 2004, as Casas Religiosas de matriz africana do Engenho Velho da Federação caminham pelo bairro e seu entorno para reafirmar o direito à liberdade, dando continuidade à história de resistência guerreira do povo negro brasileiro.

Este ano não foi diferente, no dia 15/11/2007, ao som de atabaques e instrumentos de sopro, cerca de 500 pessoas participaram da III Caminhada contra a Violência e Intolerância Religiosa e pela Paz.

No inicio de caminhada houve a soltura dos pombos brancos, que representam a paz, e salva de palmas seguidos de fogos de artificios. Logo apos, juntos, o povo de santo, percorreram as ruas do Engenho Velho de Federação até a Avenida cardeal da Silva, seguindo pela Federação, e retornando ao bairro.

Debaixo de chuva de milho branco, arroz e pipoca, representantes do povo-de-santo e militantes negros acompanhavam um carro de som, onde representantes de terreiros denunciavam agressões e constrangimentos sofridos por outras religiões, sobretudo das igrejas evangélicas,segundo eles. “O nosso objetivo é mostrar que todos têm o direto de escolher o seu culto e acreditar no que quiser. Nosso país precisa de uma cultura de paz. Esse tipo de coisa só gera violência. Não queremos isso”, afirmou a mãe-de-santo Valnízia de Ayrá, do Terreiro do Cobre, no Engenho Velho da Federação.
Como parte das manifestações pela Semana da Consciência Negra, outra caminhada – de cunho nacional, com propósito semelhante – partirá do Engenho Velho, dia 25, e fará um abraço simbólico ao Dique do Tororó.


quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Iansã a mulher búfalo

Era uma vez um búfalo que era uma mulher, Iansã, a deusa dos ventos, dos raios e das tempestades.
Ela vivia na floresta onde moram os caçadores.
Um dia Ogum que é caçador e deus da guerra passeava ali e viu o búfalo se transformar em uma bela mulher que se vestia com muito gosto e usava uma espada e fazia raios caírem do céu. Imediatamente ele ficou apaixonado pela sua beleza.
Escondido atrás da arvore Ogum esperou Iansã sair, pegou sua roupa de búfalo, escondeu no fundo da sua casa.
Depois foi ate feira procurar a bela mulher.
E lá estava ela fritando e vendendo delicios acarajés.
Ogum nao teve duvida, era ela que ele queria como sua esposa.
Ficou o dia todo cortejando a linda mulher ao final da tarde, quando ela ja estava indo embora, lhe fez uma proposta de casamento.
Ela recusou, mas ele ameaçou contar o seu segredo, que ela era um búfalo! E disse que estava sobre pose de sua roupa e de búfalo e que iria devolver.
Vendo que não tinha outra escolha ela terminou aceitando o pedido de Ogum.
Ogum já tinha outra esposa, mas o que ele mais gostava era Iansã
As outras mulheres de ogum tinham ciúmes de Iansã.
Um dia, embriagaram Ogum para ele contar porque gostava mais de Iansã.
Ele então disse:
- Ela é um búfalo!
Quando Iansã chegou em casa , as mulheres começaram zombar dela que ela era um animal e sem quere contaram onde estava onde estava escondida sua roupa de búfalo.
Iansã furiosa, foi no fundo da casa pegou a roupa e transformou-se em búfalo e começou a chifrar as mulheres. Depois ela se transformou de novo em Iansã e entregou os seus chifres ao seus filhos dizendo:
- Quando precisar de mim batam os chifres que eu retornarei.
E foi , então , para floresta.

Candomblé herança da escravidão

No tempo da escravidão muitos negros foram caçados e trazidos da África para o nosso país. O cativeiro levou-os a se revoltarem contra os dominadores brancos. A mais importante dessas revoltas ocorreu em janeiro de 1835. Organizada por africanos de formação muçulmana - Os Malês - a rebelião foi dizimada pelas tropas do governo, com o apoio das classes dominantes baianas. Vendo que a união de um determinado grupo na mesma região da África causa problemas aos senhores, o governo desenvolveu a política de reunir em cada senzala negros de diversas etnias.

Neste momento histórico os negros vindo de diversas região da África com seus deuses, os orixás, se encontram unidos apenas pela condição do cativeiro. Contrariando todas as opressões sofridas, toda tentativa de disseminação da cultura, os negros lutaram e juntos nas senzalas conseguiram se unir surgindo assim o candomblé, que é a união de vários orixás em um determinado espaço, terreiro.

Dizem os mitos que no inicio dos tempos havia apenas um deus, um deus supremo que os afro-brasileiros chamam de Olorum, o dono do céu. Foi Olorum quem criou os deuses orixás e entregou a eles a criação do mundo. Assim um certo orixá cuida do raio, outro da chuva, outro do mar, das colheitas , do comercio, da justiça etc. Desde então Olorum não mais se intrometeu no que acontece na vida dos homens, preferindo deixar tudo nas mãos dos orixás.

Com o passar do tempo, a religião que eles criaram no Brasil foi deixando de ser uma religião só de descendentes africanos passando a ser uma religião de brasileiros. No candomblé, na umbanda e em outras religiões afro-brasileiras, os orixás passaram a ser cultuados por negros, brancos, amarelos e mestiços.

Durante as cerimônias nos terreiros, templos da religião dos orixás, os orixás se manifestam no corpo de seus filhos. Eles vêm para dançar junto com os humanos, para celebrar a união dos homens com seus deuses. As celebrações nos barracão, os toques, consistem numa seqüência de danças, em que, um por um, são honrados todos os orixás, sendo vestidos com roupas de cores específicas, usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles, expressando-se em gestos e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre ao som dos tambores é designada Xirê, que em iorubá significa “vamos dançar”.

Hoje em dia um em cada cem brasileiros adora os orixás e freqüenta os terreiros para cultuá-los. Muitos outros, mesmo não fazendo parte da religião dos orixás, vão aos terreiros de candomblé em busca de ajuda e proteção dos deuses africanos.

Mais isso nem sempre foi assim houve uma época em que o candomblé uma religião proibida pela igreja católica, e perseguidas pelos poderes publicos , o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. É agora uma das religiões principais estabelecidas na Bahia, com seguidores de todas as classes sociais e de milhares de templos. Na cidade do Salvador existem 1.138 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros.

No candomblé, cada terreiro tem plena autonomia administrativa, ritual e doutrinária, tudo depende das decisões pessoais da mãe ou pai-de-santo. O controle social exercido entre terreiros, no conjunto geral do chamado povo-de-santo, se faz por redes informais de comunicação, em que a fofoca ocupa lugar privilegiado, sem que a independência do sacerdote-chefe de terreiro, contudo, sofra realmente qualquer limitação eficaz. Assim, cada comunidade de culto é livre para experimentar inovações ou retornar as formas anteriores, incorporando práticas que para outros da mesma religião podem não fazer o menor sentido.

O lado público do candomblé é visto por alguns como festivo, bonito, esplendoroso, mágico. Os orixás do Candomblé, os rituais, os terreiros, e as festas agora são vistos como uma parte integrante da cultura local e parte do folclore brasileiro. Por um lado podemos considerar esse fato como positivo, pois fortifica e fortalece a religião que já não mais poder ser perseguida. Por outro lado essa visibilidade o candomblé acaba , sendo confundido com manifestação folclórica ou forma de arrecadar dinheiro por quem anda faturando com visitas a terreiros.


sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Mãe Preta, a realidade que se transformou em lenda


No dia 28 de Setembro de 1871, a princesa imperial regente, em nome de Sua Majestade, o imperador D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a Lei do Ventre Livre: "declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento daqueles filhos menores e sobre a libertação anual de escravos".
Embora tenha sido objeto de grandes controvérsias, a lei representou, na teoria, um passo tímido na direção do fim da escravatura. Assim, juntamente com o fim do tráfico de escravos, secavam-se as fontes, ou melhor os ventres das escravas, que forneciam as novas fornadas de escravos.
Vale lembrar que apenas os escravos que nasceram desta data em diante eram livres. Suas mães continuaram escravas. Diante desta afirmação me vemos seguintes questionamentos: para aonde essas crianças iriam sem suas mães? Quem iria criá-los? Será que estavam livres mesmo? Estavam. Estavam livres de ser vendidos, comercializados como coisas. Livre somente disso.

Nesse dia, homenageamos aquela que além de gerar seus filhos, com incontáveis sacrifícios, ainda sofria tendo de entregá-los ao seu senhor, para serem escravizados e que, além disso, tinha a obrigação de cuidar e amamentar, com carinho e respeito, os filhos do seu amo.

A lenda da Mãe Preta surgiu no Rio Grande do Sul, juntamente com a cidade de Passo Fundo. Conta a lenda que a Mãe Preta era uma escrava do Cabo Neves, senhor das glebas de Passo Fundo. Era conhecida por Mariana e tinha um filho que era a sua alegria. Certa vez, o jovem fugiu de casa, não mais retornando, deixando sua mãe inconsolável a ponto de definhar. Dessas lágrimas que Mãe Preta derramou teria brotado uma fonte, que se tornou famosa entre a comunidade e os viajantes. Ainda segundo essa lenda, dizem que antes de morrer, Mãe Preta foi visitada por Jesus Menino, que lhe pediu que não chorasse, porque seu filho se encontrava na mansão celeste. Jesus ter-lhe-ia falado ainda: "Em recompensa de tua dor, pede o que quiseres que te darei"

Mãe Preta então pediu: "Dá-me a felicidade de ir para junto de meu filho, mas, como lembrança, quero deixar esta fonte, para quando aquele que dela beber, retorne sempre a esse lugar". Um chafariz foi construído sobre a fonte, cuja terra, Cabo Neves havia doado. Esse chafariz serviu, inicialmente, para fornecer o abastecimento à vila de Passo Fundo, cujo transporte era feito pelos escravos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Os meninos que fizeram a morte dançar

Hoje, é dia de Cosme e Damião, os dois irmãos bons e caridosos que realizavam milagres e por isso foram mortos sob a acusação de feitiçaria. Na cultura africana, o culto aos irmãos está associado aos "ibejis".

Diz a lenda que os Ibejis, orixás gêmeos, viviam para se divertir, eram filhos de Oxum e Xangô.

Viviam tocando uns pequenos tambores mágicos que ganharam de sua mãe adotiva, Yemanjá. Nesta época Iku, a morte, colocou armadilhas em todos os caminhos e começou a comer todos os humanos que caiam em suas arapucas.

Homens, mulheres, crianças ou velhos, Iku devorava todos. Iku pegava os seres humanos entes do seu tempo aqui no Aye. O terror se alastrou pelo mundo.

Sacerdotes, bruxos, adivinhos, curandeiros se reuniram, mas foram vencidos também por Iku, e os humanos continuavam a morrer antes do tempo.

Os Ibejis, então, aramaram um plano para deter Iku. Pegaram uma trilha mortal onde Iku preparara uma armadilha, um ia na frente e o outro seguia atrás escondido pelo mato a pouca distancia. O que seguia pela trilha ia tocando seu pequeno tambor e tocava com tal gosto e maestria que a morte ficou maravilhada, e não quis que ele morresse e o avisou da armadilha. Iku se pôs a danças inebriadamente, enfeitiçada pelo som mágico do tambor. Quando um irmão cansou de tocar, sem que a morte percebesse o outro veio tocar em seu lugar. E assim foram se revezando, sem Iku perceber e ela não parava de dançar e a musica jamais cessava.

Iku já estava esgotada e pediu para parar, e eles continuavam tocando para a dança tétrica.

Iku implorava uma pausa para descanso.

Então os Ibejis propuseram um pacto. A musica cessaria mas Iku teria que jurar que tiraria todas as armadilhas.

Iku não tinha escolha, rendeu-se; os gêmeos venceram. Foi assim que ibejis salvaram os homens e ganharam fama de muito poderosos, por que nenhum outro orixá conseguiu ganhar akela peleja contra a morte. Os Ibejis são poderosos, mas os que eles gostam mesmo é de brincar.

Baseado no texto de Reginaldo Prandi, Ifá, o Adivinho. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2002.

O segredo das folhas de Ossain

Conta a historia que Ossain era o único orixá que tinha o conhecimento do uso das folhas. Por isso, era conhecido como o dono das folhas, ervas e plantas sagradas, possuidoras de axé.

Todos os orixás recorriam a Ossain para curar qualquer doença, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossain pra curar suas doenças. Todos iam à casa de Ossain buscar seus preparados mágicos: banhos, chás, pomadas. E de lá saiam curados.

Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam compartilhar o poder de Ossain, conhecendo o segredo das ervas. Xangô ordenou que Ossain dividisse suas folhas com os outros Orixás. Mas Ossain negou-se a dividir suas folhas com os outros Orixás. Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossain para que fossem distribuídas aos Orixás. Iansã fez o que Xangô mandou. Fez um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô. Ossain percebeu o que estava acontecendo e gritou:

-As folhas funcionam!

Na mesma hora , Ossain ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossain. Quase todas as folhas retornaram para Ossain. As que já estavam em poder de Xangô perderam o Axé, perderam o poder da cura.

Xangô, que era um orixá justo, admitiu a vitória de Ossain. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossain e que assim devia permanecer através por toda vida.

Ossain, contudo, deu uma folha para cada Orixá, deu uma folha mágica para cada um deles. Cada folha com seus axés e seus efós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Ossain distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Agora eles também podiam realizar façanha com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Ossain não conta seus segredos para ninguém.

Os Orixás ficaram gratos a Ossain e sempre o agradece quando usam as folhas.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Casa, filhos, promessa

Viúva aos 40 anos, Maria Raimunda dos Santos, se viu sozinha tendo que criar quatro filhos entre 25 e 19 anos de idade e terminar a construção da casa que começou juntamente com seu esposo. Diante de tanto desespero resolveu fazer uma promessa para São Cosme e São Damião que se ele a ajudasse a criar seus filhos e terminar a construção da casa e em troca lhe daria o caruru de São Cosme enquanto vida tivesse. Promessa feita, casa construída, filhos criados. Nada resta a Dona Mundinha, como é conhecida, alem de curtir.

E foi isso que fez durante toda sua maturidade, festa de Santa Bárbara, Yemanjá, lavagem do Bonfim, samba-de-roda, seresta, aniversários, casamentos... era a verdadeira arroz doce das festa se tinha um batuque lá estava ela, podia ser a festa que fosse bastava convidar que ela ia.

Entre uma festa e outra arrumou um paquera, o qual tornou-se por um bom tempo seu companheiro de festa. Relacionamento terminado por motivo de ciúmes, e queixas por sair demais, resolveu curtir a vida sozinha jurou nunca mais se prender a ninguém não queria mais ninguém limitando seus passos. “Se maluco chamar não vá. Se não era capaz de me acompanhar que ficasse em casa”, reposta dado por Dona Mundinha sempre que questionada sobre o termino do seu relacionamento.

Neste mesmo ano Dona Mundinha resolveu não mais dar o caruru de São Cosme, achou que já havia alimentado São Cosme demais seria aquele o ultimo ano de sua promessa e sem saber seria também o ultimo ano que poderia curtir a vida da maneira que ela mais gostava. Um dia antes do tão esperado caruru, o enevitado aconteceu teve um derrame que paralisou todo lado esquerdo do seu corpo. Hoje a quatro anos em casa só saindo pra ir ao médico continua dando o caruru de São Cosme e pedindo que o mesmo lhe retorne o prazer de viver, possibilitando sua saida para as festas.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O dia em que o céu se separou da terra


A milhares de ano atrás não havia separação entre o Orum (o céu dos orixás) e o Aiê (a terra dos humanos). Homens e os orixás viviam juntos e felizes dividindo alegrias e aventuras. Até que um dia um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O céu que era branco ficou todo sujo. Vendo toda aquela sujeira Oxalá, que gostava de tudo branquinho bem limpinho, foi reclamar com Olorum, o dono do céu. Olorum irritado com a sujeira que os seres humanos estavam fazendo decidiu separar o céu da terra, a partir daquele momento nenhum ser humano poderia ir para o céu dos orixás e nenhum orixá poderia descer para terra dos seres humanos.

Agora eles viviam cada um no seu mundo. Todos estavam muito tristes, pois não tinha mais com quem brincar. Então os orixás resolveram se reunir e ir falar com Olorum, que acabou permitindo que em vez em quando os orixás retorna-se à terra. Os orixás ficaram muitos felizes porque podiam voltar a terra e os homens mais ainda porque poderiam novamente brincar com os orixás.

Os homens felizes com a notícia resolveram fazer uma festa para receber os orixás. Enquanto os homens tocavam seus tambores, cantavam, davam vivas e aplaudiam convidando todos os seres humanos para a festa, os orixás dançavam e dançavam e dançavam. Os orixás podiam de novo conviver com os seres humanos. Todos estavam muitos felizes. Na festa orixás e os seres humanos dançavam e cantavam.

A origem do homem na versão Africana


-Vovó de onde mesmo que veio o homem?

- Senta aqui que vou de contar: Quando era bem pequenininha assim mais ou menos da sua idade minha avó que era descendente da África, uma região chamada Daomé, me contou uma história.
Não sei se ainda lembro direito mais vou te contar o que lembro.

-Vovó antes da senhora me conta a história, me diz o que é descendente?

- Descendente é aquele que vem de algum lugar.

- Já sei vovó. Agora a senhora pode continuar a história.

-Há muito tempo atrás os orixás viviam aqui na terra. A terra era habitada pelos orixás. Não existia o homem. Até que um dia Olorum , o dono do céu, resolveu que iria criar o homem para fazer companhia aos orixás. Olorum tentou criar o homem de ar, de fogo, de água, pedra e madeira, mas em nenhum caso deu certo.

- Porque não deu certo vovó?

- Não deu certo porque o homem de ar e de água desaparecia,não tinha forma , o de fogo consumia-se , o de pedra era duro não se mexia o de madeira também.

-E agora vovó o que Olorum fez?

- Na verdade ele não fez nada. Nanã foi quem fez. Ela vendo que todas as alternativas tinham dado errado, se ofereceu para criar o homem. Olorum permitiu. E Nanã poste a fazer o homem. Pegou um punhado de barro foi modelando o corpo as pernas, os braços a cabeça, e tudo que temos hoje. Ela não esqueceu de nada , fez tudo direitinho. Nos deu tudo que precisamos, pernas para andar, mãos para pegar as coisas, olhos para ver... não esqueceu de nada.

- E depois que homem foi feito, o que aconteceu?

- Os homens e os orixás viveram juntos e feliz dividindo alegrias e aventuras na terra.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Candomblé luta pelo reconhecimento como religião

Trajes baianos e culinária de dar água na boca são alguns dos atrativos que atraem os turistas quando se fala em Bahia. Entretanto, por também estar associado à cultura local, o candomblé acaba , sendo confundido com manifestação folclórica ou forma de arrecadar dinheiro por quem anda faturando com visitas a terreiros.

Comida típica em fartura, apresentações artísticas, acento reservado, ao som dos atabaques e se a visita for durante o dia terá direito a entrar nos quartos dos orixás em qualquer terreiro, tudo isso no valor entre R$ 50 a R$ 95, por pessoa. Este é o montante que muitos guias avulsos e agencias de viagem estão cobrando para levar os turistas brasileiros e estrangeiros aos terreiros de candomblé. Este fato tem preocupado sacerdote e sacerdotisa que vêem este ato como desrespeito a religião. Em entrevista ao Jornal a Tarde a mãe Stella de Oxossi , do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, afirma que os visitantes devem levar a impressão correta, encarando o candomblé como religião. “O candomblé não é um produto turismo étnico.”

Visando estes e outros problemas que os terreiros de candomblé de Salvador vem enfrentando mãe Stella de Oxossi realizou uma discussão sobre o tema. No ultimo sábado, dia 15 de setembro, guias turístico, agências de viagens, estudantes de turismo e órgãos governamentais foram convidados a participar do Seminário Turismo e Candomblé. O seminário ocorre com a proposta de desfazer uma serie de mal-estendido e distorções sobre a religião.

Dentro da mesma linha, o projeto de Turismo étnico da Secretaria de Turismo (Setur) pretende apoiar ações que visem à mudança de postura com relação ao candomblé. Uma das ações será o apoio a eventos que visem à conscientização de visitantes e profissionais da área. Dentre outros projetos serão apoiados pela secretaria esta a construção de pousadas em alguns templos, para acolher visitantes,em projeto previsto para o ano que vem. A Setur pretende realizar um fórum para apresentar toda a estrutura étnico em evento realizado para profissionais da área e representantes de terreiros.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O vazio das revistas


Uma coisa me deixa extremamente curiosa. Por que diabos o público feminino compra estas revistas que tratam as mulheres como manequim? Acabou de chegar aqui em casa mais uma das revistas que minha mãe faz questão de ler. Na capa Grazi agora “em versão boa forma” no corpo da matéria tem: Com um corpo escultural, cabelo absolutamente maravilhoso e sorriso fácil, Grazi seduz rápida e violentamente qualquer um que se atreva olhar para ela por mais de dez segundos. Nesta nova fase, aderiu a um personal trainer, melhorou sua alimentação e descobriu o prazer de consumir. Confira!

Voltada para o bem estar feminino, a revista Boa Forma traz mensalmente mulher rotuladas como “perfeita” para dar dicas de como viver bem, de como ser bonita... Sinceramente, tudo se tornaria bem mais simples, se além de despertar o interesse do mercado pela moda, beleza e cosmético ela também discutisse temas fundamentais como uma boa alimentação sem se preocupar em parecer com fulaninha da tv ou com cicraninha que é mó gostosa . Afinal para que tiveram o trabalho de criar uma revista dirigida para o público feminino onde o tema é o bem estar, se o único objetivo sincero da matéria é reproduzir na mulher do dia a dia, manequins produzidos pela mídia?

Realmente tudo seria mais simples se nós, mulheres modernas, em vez de perder tempo lendo estas revistas recheadas de besterol, optássemos por fazer coisas geniais, como manter o auto-controle no supermercado, embora não acredite que precisa. Acredito mesmo que devemos comer tudo que temos vontade sem se preocupar com estética, a única preocupação que devemos ter é realmente com a saúde.

Pois bem, caso não consiga manter-se em forma pode a moça - baleia assumir-se gorda e manter outro conselho fabuloso em revistas similares: curso de strip para mulheres obesas, afim de alcançar uma rápida melhora auto estima ou então dicas seguir maravilhosas de roupas que disfarçam aquelas gorduras laterais que estão sobrando. Enfim se acha que é gorda se assuma, ou então corra para bancas e consuma rapidamente tudo que diz respeito as mulheres modernas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Festa da boa morte celebrada os primórdios do movimento abolicionista


O município baiano de Cachoeira sediou do dia 13, até a ultima sexta-feira, 17, a Festa da Irmandade da Boa Morte. A comemoração é um dos festejos mais tradicionais da cidade, localizada no Recôncavo Baiano– distante 110km de Salvador.


Para se entender melhor essa manifestação que ocorre no Recôncavo baiano é necessário voltarmos a o passado e reviver os tempos do Brasil colonial, do país escravocrata. Percorrer as ruas de Cachoeira onde a paisagem e a energia dos escravos ainda repercutir. Alguns historiadores se arriscam em disser que talvez seja o primeiro movimento feminista negro do País: a Irmandade da Boa Morte, uma organização de mulheres negras que à sua moda resistiu e se rebelou contra os sofrimentos impostos pelo regime escravagista, desde a jornada de trabalho nas senzalas aos castigos e mutilações, como o corte dos seios, extrações dos dentes e da língua daqueles consideradas mais.


As 22 mulheres negras com mais de 40 anos , que atualmente compõem a irmandade percorreram em procissão as ruas da cidade histórica de Cachoeira.As irmãs mais antigas se vestem com mais adereços – saiões ornamentados por guias de orixás, cobertas por um manto vermelho por cima da bata branca. Já as noviças, mais modestas, se vestem apenas de batas brancas. Nas mãos, todas levavam flores.


Este ano a celebração que começou o dia 13 às 6h , teve abertura com a alvorada de fogos, logo em seguida elas desfilaram de preto simbolizando o luto pela morte da mãe de Jesus Cristo, no dia seguinte foi a vez de comemorar a subida do corpo da alma e da Virgem aos Céus. Portanto, o branco era a cor que dava o tom. Após os ritos sagrados, foi a vez do mundo profano com o samba-de-roda , capoeira , degustação de comidas típicas...


A integrante mais velha integrante da irmandade, dona Filhinha, 102 anos, incomodada com tanto assédio confessa que o rito tradicional esta sendo quebrado .Já a procuradora da festa deste ano, irmã Mariá Lameu, diz ter ficado eufórica com o festejo. “A irmandade continua com força e a festa deste ano foi muito bonita".


“Nossa celebração demonstra a força da fé”, diz. O antropólogo cachoeirense Luiz Cláudio Dias é mais crítico. Ele chama atenção para a “diluição” da tradição da irmandade. “Houve um processo de não-transmissão dos ritos sagrados das irmãs mais velhas para aquelas que vinham chegando. Atualmente, a irmandade se caracteriza como ícone estereotipado da religiosidade afro-brasileira”.


A comemoração da festa da Irmandade da Boa Morte iniciou-se na época da escravatura. Com origem nas senzalas, local de encontro dos cativos, onde as mulheres rezavam pelo fim da escravidão e prometiam comemorar todo ano a morte e assunção.