O município baiano de Cachoeira sediou do dia 13, até a ultima sexta-feira, 17, a Festa da Irmandade da Boa Morte. A comemoração é um dos festejos mais tradicionais da cidade, localizada no Recôncavo Baiano– distante 110km de Salvador.
Para se entender melhor essa manifestação que ocorre no Recôncavo baiano é necessário voltarmos a o passado e reviver os tempos do Brasil colonial, do país escravocrata. Percorrer as ruas de Cachoeira onde a paisagem e a energia dos escravos ainda repercutir. Alguns historiadores se arriscam em disser que talvez seja o primeiro movimento feminista negro do País: a Irmandade da Boa Morte, uma organização de mulheres negras que à sua moda resistiu e se rebelou contra os sofrimentos impostos pelo regime escravagista, desde a jornada de trabalho nas senzalas aos castigos e mutilações, como o corte dos seios, extrações dos dentes e da língua daqueles consideradas mais.
As 22 mulheres negras com mais de 40 anos , que atualmente compõem a irmandade percorreram em procissão as ruas da cidade histórica de Cachoeira.As irmãs mais antigas se vestem com mais adereços – saiões ornamentados por guias de orixás, cobertas por um manto vermelho por cima da bata branca. Já as noviças, mais modestas, se vestem apenas de batas brancas. Nas mãos, todas levavam flores.
Este ano a celebração que começou o dia 13 às 6h , teve abertura com a alvorada de fogos, logo em seguida elas desfilaram de preto simbolizando o luto pela morte da mãe de Jesus Cristo, no dia seguinte foi a vez de comemorar a subida do corpo da alma e da Virgem aos Céus. Portanto, o branco era a cor que dava o tom. Após os ritos sagrados, foi a vez do mundo profano com o samba-de-roda , capoeira , degustação de comidas típicas...
A integrante mais velha integrante da irmandade, dona Filhinha, 102 anos, incomodada com tanto assédio confessa que o rito tradicional esta sendo quebrado .Já a procuradora da festa deste ano, irmã Mariá Lameu, diz ter ficado eufórica com o festejo. “A irmandade continua com força e a festa deste ano foi muito bonita".
“Nossa celebração demonstra a força da fé”, diz. O antropólogo cachoeirense Luiz Cláudio Dias é mais crítico. Ele chama atenção para a “diluição” da tradição da irmandade. “Houve um processo de não-transmissão dos ritos sagrados das irmãs mais velhas para aquelas que vinham chegando. Atualmente, a irmandade se caracteriza como ícone estereotipado da religiosidade afro-brasileira”.
A comemoração da festa da Irmandade da Boa Morte iniciou-se na época da escravatura. Com origem nas senzalas, local de encontro dos cativos, onde as mulheres rezavam pelo fim da escravidão e prometiam comemorar todo ano a morte e assunção.